sábado, 10 de abril de 2010

Texto para prova - 5ª Séries - 120 anos de Favela

Nos anos 1930, poucas moradias subiam a encosta da Rocinha, onde ainda era possível se ver a copa de bananeiras e de outras árvores. O lugar mantinha um aspecto bucólico, de roça, o que somado às pequenas plantações de hortaliças que, dizem, abasteciam muitos apartamentos da Zona Sul, rendeu o nome da comunidade. Tal como o restante da cidade, e como a maioria das favelas cariocas, a Rocinha cresceu e muito. De lá pra cá, a pequena roça transformou-se numa comunidade de mais de 100 mil habitantes, com construções de quatro, cinco andares.

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Essas comunidades nasceram da negligência do Estado, da ausência de políticas habitacionais que contemplassem as camadas mais pobres da população. De acordo com Duarte (2007) "As favelas concentraram aqueles que tinham acesso negado à cidade formal. Com moradias erguidas com o material descartado por moradores de áreas mais nobres – de tábuas de madeira de demolição e chapas de zinco surgiam paredes, fundações e até telhados – seu surgimento foi intensificado pela necessidade de morar próximo aos locais de trabalho. Seus moradores são, dentre os habitantes da cidade, os que mais precisam da ressocialização dos benefícios sociais gerados pelo próprio processo de urbanização, mas são também as áreas onde esses benefícios não chegam”, critica.

A favela da Rocinha em dois momentos distintos, anos 1930 e anos 1950:
ausência do poder público gerou uma ocupação desordenada do local

Apesar da precariedade, essas construções que seriam temporárias acabaram se tornando definitivas, embora sempre inacabadas, eternamente em construção. “Essa parece ser uma característica mais forte das casas de favela. Por mais que tenham sido iniciadas há muito tempo, na maioria das vezes a obra caminha devagar, tocada por partes, na medida em que surge maior folga no orçamento. Como há também a questão da família que cresce, da necessidade de mais um ou outro cômodo, a casa vai se adaptando, vai crescendo numa construção que nunca é concluída”, fala Duarte.

Na mesma velocidade com que a malha urbana da cidade ganhou outros contornos, as favelas também se expandiram. “Tal como a urbe medieval, que surgiu como um espaço acolhedor frente à estratificação do feudalismo, potencialmente enriquecedor, como ponto de encontro de pessoas diferentes, a favela também surgia tendo o homem como medida. Suas ruelas estreitas, como as das cidades medievais, são próprias para o trânsito de pessoas. Ao contrário do restante da cidade, onde essa medida passa a ser o automóvel”, prossegue o arquiteto.

Em oposição à cidade tradicional, cria-se uma cidade tecnificada, ditada pela mecanização da locomoção, que encurta as distâncias urbanas. Em compensação, a vida de bairro se esgarça, já que a intensificação do trânsito acaba expulsando a vivência de rua. “Foi o que aconteceu em Brasília e na Zona Oeste carioca, especialmente na Barra da Tijuca e Recreio, bairros que nasceram das pranchetas dos arquitetos, com grandes condomínios atravessados por longas vias expressas. Tudo passa a ser pensado em torno do automóvel – que tanto quanto meio de transporte individual é símbolo do status social de seus proprietários. Aqueles que não têm carro ficam excluídos, uma vez que o transporte coletivo nunca foi de qualidade, já que sempre foi voltado para as populações de baixa renda”, diz o pesquisador.

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“A princípio, as favelas foram ignoradas pela sociedade. No máximo, eram vistas com certo romantismo, de berço do samba e do carnaval. Num segundo momento, quando elas começaram a crescer, ocupando áreas em zonas nobres da cidade, passaram a ser vistas como um problema a ser extirpado. Tem início então a concretização de medidas de uma política de remoção”, explica Duarte. Quando essa política se mostrou inócua, tomou forma o pensamento de que o próprio crescimento da malha urbana serviria para absorver favela. “Mas o que se está vendo é justamente o contrário. Hoje, essas comunidades estão incorporadas à paisagem do Rio e não é mais possível pensar em erradicação, mas em soluções que as transformem em bairros populares”, fala.

Fonte: Texto adaptado de http://www.faperj.br/boletim_interna.phtml?obj_id=4697 . Autor: Vilma Homero. 10/07/2008.

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