segunda-feira, 12 de abril de 2010

Texto para Prova - 7ª Série: Desigualdade racial caiu nos últimos 14 anos

Os brancos brasileiros têm indicadores de desenvolvimento humano maiores em todas as regiões e todos os Estados do país. Mas não apenas isso: os negros ainda não chegaram ao IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) que os brancos tinham em 1991, primeiro ano da série histórica calculada pela ONU e apresentada no relatório Emprego, Desenvolvimento Humano e Trabalho Decente – A experiência brasileira recente, lançado pela CEPAL (Comissão Econômica para América Latina e Caribe), pela OIT (Organização Internacional do Trabalho) e pelo PNUD. Apesar de ter registrado uma evolução de 17,5% em 14 anos, o IDH dos pretos e pardos em 2005 (0,743) ainda é inferior ao registrado para os brancos em 1991 (0,763).

Os negros têm indicadores piores em todos os três itens que fazem parte do IDH (entenda a composição do IDH no texto ao lado), mas a diferença é puxada sobretudo pelo IDH-Renda (que leva em conta a renda familiar per capita). O índice de renda dos brancos em 2005 era 19,9% maior que o de negros. Nos outros componentes do IDH, a distância é menor: 9,1% no índice referente à educação e de 8,1% na longevidade.

“A distância ainda é muito grande, principalmente quando se trata de trabalho. Para se ter uma idéia, uma de cada cinco negras trabalhadoras é empregada doméstica [segundo a OIT], e apenas um de cada cinco empregadores é negro”, afirma Marcelo Paixão, professor de Economia na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e especialista em desigualdade racial.

Os dados do relatório mostram um Brasil que tem, no topo, os brancos do Distrito Federal — IDH de 0,910, próximo ao da Coréia do Sul (0,921) e superior ao de Portugal (0,897). Na outra ponta, o pior índice é o dos negros de Alagoas, com IDH de 0,639, inferior ao de países africanos como Guiné Equatorial (0,642) e Namíbia (0,650).

Alagoas, além de ser o Estado onde os pretos e pardos têm pior índice, é também onde há mais desigualdade. O indicador de desenvolvimento humano dos brancos é 17,7% maior que o dos negros. Na outra ponta, da menor desigualdade, estão Rondônia e Amapá, onde a diferença é de 5,6%. A região com menor fosso racial é o Norte, onde o índice dos brancos supera em 7,2% o dos negros, e a com o maior fosso é o Sudeste (9,3%).

Desigualdade de cor em queda

O abismo racial em relação ao desenvolvimento humano, no entanto, diminuiu ao longo dos anos analisados pelo relatório (1991 a 2005). Em 1991, o IDH dos brancos brasileiros era 20,6% superior ao dos negros; em 2005, a proporção caiu para 11,8%. Em números absolutos, a distância recuou 32,5% no período.

A desigualdade caiu mais no IDH-Educação (que leva em conta freqüência à escola e alfabetização): em 2005 a distância entre brancos e negros era 49,3% menor que em 1991. No IDH-Longevidade (que considera a expectativa de vida ao nascer), a diferencia caiu 36,7% e no IDH-Renda, 12%. "Essa redução, principalmente na educação, se dá por conta de crescimento na taxa de escolaridade para os negros e na longevidade, porque houve queda da mortalidade infantil, que é altíssima entre negros", detalha Marcelo Paixão.

A discrepância entre o IDH dos dois grupos caiu mais no Sul (38,8%). Em 1991, os três Estados da região (Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná) estavam entre os cinco mais desiguais em desenvolvimento humano. Em 2005, nenhum deles continua na lista. O Centro-Oeste, onde a melhoria foi a menor (21,3%), conta com o Estado que menos evoluiu na questão – Mato Grosso reduziu em apenas 2,6% a desigualdade racial no IDH entre 1991 e 2005.

Apesar de a desigualdade ter diminuído em todas as regiões e todos os Estados, Paixão faz ressalvas. “Isso [a evolução mais forte dos negros desde 1991] também ocorre porque eles partem de uma base mais baixa. Por exemplo, se um lugar tem média de dois anos de estudo e, em uma década, pula para três anos de estudo, há uma evolução de 50%, considerada grande. Se outro lugar passa de seis anos para oito anos de estudo, só evoluiu um terço. Esse efeito ocorre também em relação a renda e longevidade”, argumenta.

A tendência, prevê o economista, é que o ritmo de queda da desigualdade perca força. “O ritmo da redução da diferença entre negros e brancos no IDH e em outros índices tende a diminuir conforme chegamos a questões mais profundas do racismo na sociedade.” O especialista avalia que a melhoria nos indicadores, até agora, é fundada em políticas como valorização do salário mínimo, programas de distribuição de renda e redução de mortalidade infantil. Segundo ele, essas políticas têm impacto nas desigualdades raciais, mas só até certo ponto. Desse ponto limítrofe em diante, afirma, só haverá redução significativa de desigualdade se houver políticas afirmativas, como cotas para negros, em vários setores.


Fonte: Programa das nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD)

Texto da Prova - 6ª Séries: Tecnologia na Produção de Mapas

De Profº Bruno Lima Emidio

A Geografia, de acordo com o Geógrafo Yves Lacoste, "serve antes para a guerra", e a ciência conforme o tempo passou esta se desenvolveu, deixou os campos de batalha e ganhou a sociedade. Abaixo algumas citações a respeito da evolução da tecnologia da produção de mapas e outros produtos:

Eric Hobsbawn (Livro Era do Capital)
"O mundo em 1875 era portanto mais conhecido do que nunca fora antes. Mesmo em nível nacional, mapas detalhados (a maior parte iniciados por razões militares) podiam ser agora encontrados na maioria dos países desenvolvidos: a publicação do empreendimento pioneiro neste setor, os mapas da Inglaterra da Ordnance Survey – mas não ainda da Escócia e Irlanda – tinha sido completada em 1862. Porém, mais importante que o mero conhecimento, as mais remotas partes do mundo estavam agora começando a ser interligadas por meios de comunicação que não tinham precedentes pela regularidade, pela capacidade de transportar vastas quantidades de mercadorias e número de pessoas e, acima de tudo, pela velocidade: a estrada de ferro, o barco a vapor, o telégrafo."

Revista Ciência Hoje - Reportagem "A Amazônia - Mar/06"
"Outra forma de avaliar a incidência de queimadas na Amazônia é através da medição, por satélite, do número de focos de incêndios. O Inpe realiza esse levantamento, utilizando imagens captadas por satélites da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA, na sigla em inglês), dos Estados Unidos. Os dados sobre esses focos, entre 1999 e 2005, revelam que sua quantidade permaneceu em torno de 120 mil em 2000 e 2001, mas subiu em 2005 para cerca de 225 mil, o que representa um aumento muito elevado – de mais de 50% – no número de incêndios nos últimos anos."

Mundo Geo (http://www.mundogeo.com.br/noticias-diarias.php?id_noticia=3219):

"O satélite QuickBird tem sido amplamente utilizado pela coalizão anglo-americana na guerra contra o Iraque, para reproduzir imagens de alta resolução de país de Saddam Hussein."

"Através da análise dessas imagens é possível identificar, localizar e monitorar todos os componentes do cenário de mobilização da força resistente, tais como tanques, barricadas, artilharia antiaérea e deslocamento de tropas, permitindo um melhor planejamento de ataque. Para Luis Leonardi, diretor da Intersat, a possibilidade de planejar forças e possíveis combates através do conhecimento preciso do posicionamento do inimigo faz do QuickBird uma das "armas" mais poderosas desta guerra."

"Pois assim é possível estabelecer um melhor uso dos recursos e dos instrumentos de ataque, combinando o uso dessas forças para que se atinja o resultado esperado com o mínimo de perdas, comenta Leonardi. O QuickBird possui resolução espacial de 60 centímetros, permitindo medições de ruas, contorno de edificações e até mesmo classificação de ocupação urbana."

"O satélite também é capaz de monitorar degradações ambientais, como desmatamentos e queimadas, além de levantar rapidamente grandes áreas, devido a sua grande capacidade de gravação a bordo. Em tempos de guerra, as imagens desse satélite são muito utilizadas para acompanhar a movimentação da força inimiga, sendo que ainda é possível visualizar áreas de produção de armamento, sistemas de transporte, bases navais e aéreas, forças de terra, mísseis, áreas de concentração de armamentos, quartéis generais, vilas militares, áreas de logística e operacionais."

Luiz Martins (GPS e Agricultura)

"As aplicações baseadas no GPS de agricultura de precisão estão sendo usadas para o planejamento de plantio, mapeamento em campo, amostragem de solo, direcionamento do trator, inspeção da colheita, tempos variáveis de aplicação e o mapeamento da produção. O GPS permite aos agricultores trabalharem durante condições de baixa visibilidade do campo, como chuva, poeira, névoa, e escuridão."

"No passado, era difícil para os agricultores correlacionar técnicas de produção e os resultados da colheita com as variações da terra. Isso limitava suas habilidades para desenvolver estratégias mais efetivas de gerencia do solo/planta que pudesse aumentar suas produções. Hoje em dia, a aplicação mais precisa de pesticidas, herbicidas e fertilizantes e um melhor controle da dispersão destas substâncias químicas são possíveis através da agricultura de precisão, consequentemente reduzindo despesas, produzindo um rendimento mais alto e criando uma fazenda ambientalmente mais amigável."

"A agricultura de precisão está mudando o modo como os agricultores e os empresários agrícolas estão visualizando a terra da qual retiram seus lucros.
"

Em todos estes casos podemos observar como a Geografia ganhou importância, e seus usos foram diversificados. Da guerra à proteção ambiental, houveram evoluções das simples observações de campo para poderosos satélites de imageamento, e monitoramento.

sábado, 10 de abril de 2010

Texto para prova - 5ª Séries - 120 anos de Favela

Nos anos 1930, poucas moradias subiam a encosta da Rocinha, onde ainda era possível se ver a copa de bananeiras e de outras árvores. O lugar mantinha um aspecto bucólico, de roça, o que somado às pequenas plantações de hortaliças que, dizem, abasteciam muitos apartamentos da Zona Sul, rendeu o nome da comunidade. Tal como o restante da cidade, e como a maioria das favelas cariocas, a Rocinha cresceu e muito. De lá pra cá, a pequena roça transformou-se numa comunidade de mais de 100 mil habitantes, com construções de quatro, cinco andares.

(...)

Essas comunidades nasceram da negligência do Estado, da ausência de políticas habitacionais que contemplassem as camadas mais pobres da população. De acordo com Duarte (2007) "As favelas concentraram aqueles que tinham acesso negado à cidade formal. Com moradias erguidas com o material descartado por moradores de áreas mais nobres – de tábuas de madeira de demolição e chapas de zinco surgiam paredes, fundações e até telhados – seu surgimento foi intensificado pela necessidade de morar próximo aos locais de trabalho. Seus moradores são, dentre os habitantes da cidade, os que mais precisam da ressocialização dos benefícios sociais gerados pelo próprio processo de urbanização, mas são também as áreas onde esses benefícios não chegam”, critica.

A favela da Rocinha em dois momentos distintos, anos 1930 e anos 1950:
ausência do poder público gerou uma ocupação desordenada do local

Apesar da precariedade, essas construções que seriam temporárias acabaram se tornando definitivas, embora sempre inacabadas, eternamente em construção. “Essa parece ser uma característica mais forte das casas de favela. Por mais que tenham sido iniciadas há muito tempo, na maioria das vezes a obra caminha devagar, tocada por partes, na medida em que surge maior folga no orçamento. Como há também a questão da família que cresce, da necessidade de mais um ou outro cômodo, a casa vai se adaptando, vai crescendo numa construção que nunca é concluída”, fala Duarte.

Na mesma velocidade com que a malha urbana da cidade ganhou outros contornos, as favelas também se expandiram. “Tal como a urbe medieval, que surgiu como um espaço acolhedor frente à estratificação do feudalismo, potencialmente enriquecedor, como ponto de encontro de pessoas diferentes, a favela também surgia tendo o homem como medida. Suas ruelas estreitas, como as das cidades medievais, são próprias para o trânsito de pessoas. Ao contrário do restante da cidade, onde essa medida passa a ser o automóvel”, prossegue o arquiteto.

Em oposição à cidade tradicional, cria-se uma cidade tecnificada, ditada pela mecanização da locomoção, que encurta as distâncias urbanas. Em compensação, a vida de bairro se esgarça, já que a intensificação do trânsito acaba expulsando a vivência de rua. “Foi o que aconteceu em Brasília e na Zona Oeste carioca, especialmente na Barra da Tijuca e Recreio, bairros que nasceram das pranchetas dos arquitetos, com grandes condomínios atravessados por longas vias expressas. Tudo passa a ser pensado em torno do automóvel – que tanto quanto meio de transporte individual é símbolo do status social de seus proprietários. Aqueles que não têm carro ficam excluídos, uma vez que o transporte coletivo nunca foi de qualidade, já que sempre foi voltado para as populações de baixa renda”, diz o pesquisador.

(...)

“A princípio, as favelas foram ignoradas pela sociedade. No máximo, eram vistas com certo romantismo, de berço do samba e do carnaval. Num segundo momento, quando elas começaram a crescer, ocupando áreas em zonas nobres da cidade, passaram a ser vistas como um problema a ser extirpado. Tem início então a concretização de medidas de uma política de remoção”, explica Duarte. Quando essa política se mostrou inócua, tomou forma o pensamento de que o próprio crescimento da malha urbana serviria para absorver favela. “Mas o que se está vendo é justamente o contrário. Hoje, essas comunidades estão incorporadas à paisagem do Rio e não é mais possível pensar em erradicação, mas em soluções que as transformem em bairros populares”, fala.

Fonte: Texto adaptado de http://www.faperj.br/boletim_interna.phtml?obj_id=4697 . Autor: Vilma Homero. 10/07/2008.